Fabrício Carpinejar.

”(…) Uma mulher não perdoa uma única coisa no homem: que ele não ame com coragem. Pode ter os maiores defeitos, atrasar-se para os compromissos, jogar futebol no sábado com os amigos, soltar gargalhada de hiena, pentear-se com franjinha, ter pelos nas costas e no pescoço, usar palito de dente, trocar os talheres de um momento para outro. Qualquer coisa é admitida, menos que não ame com coragem.
Amar com coragem não é viver com coragem. É bem mais do que estar aí. Amar com coragem não é questão de estilo, de gosto, de opinião. Não se adquire com a família, surge de uma decisão solitária. Amar com coragem é caráter. Vem de uma obstinação que supera a lealdade. Vem de uma incompetência de ser diferente. Amar para valer, para dar torcicolo. Não encontrar uma desculpa ou um pretexto para se adaptar, para fugir, para não nadar até o começo do corpo. Não usar atenuantes como “estou confuso”. Não se diminuir com a insegurança, mas se aumentar com a insegurança. Não se retrair perante os pais. Não desmarcar um amor pela amizade. Não esquecer de comentar pelo receio de ser incompreendido. Não esquecer de repetir pela ânsia da claridade. Amar como se não houvesse tempo de amar. Amar esquisito, de lado, ainda amar. Amar atrasado, com a respiração antecipando o beijo. Amar com fúria, com o recalque de não ter sido assim antes. Amar decidido, obcecado, como quem troca de identidade e parte a um longo exílio. Amar como quem volta de um longo exílio.
(…)
Amar com coragem, só isso.”

Fabrício Carpinejar.

Mario Quintana

Me leva... por caminhos de amor e prazer
Se inflame na chama do meu corpo 
Me sufoca 
Me enrosca 
De forma natural 

se entregue 
Me pega
Me laça
Me abraça

Vem me induzir aos seus anseios
e aos meus desejos tão loucos
que aos poucos vão nos consumindo
de tanto amor e prazer

Eu quero seu amor a qualquer preço
Quero que você me tenha por inteiro
Quero seus beijos ardentes
tão doces... tão quentes...
e me embriagar no perfume do seu corpo
para que possamos viajar
nesse amor tão bonito.


Mario Quintana




JG de Araújo Jorge

"Essa, que hoje se entrega aos meus braços escrava
olhos tontos do amor de que aos poucos me farto,
ontem... era a mulher ideal que eu procurava
que enchia a minha insônia a rondar o meu quarto...

Essa, que ao meu olhar parado e indiferente
há pouco se despiu - divinamente nua -,
já me ouviu murmurar em êxtase, fremente:
- Sou teu! ... E já me disse, a delirar: - Sou tua !

Essa, que encheu meus sonhos, meus receios vãos,
num tempo em que eram vãos meus sonhos, meus receios,
já transbordou de vida a ânsia das minhas mãos
com a beleza estonteante e morna dos seus seios !

Essa, que se vestiu... que saiu dos meus braços
e se foi... - para vir, quem sabe? uma outra vez.
- segui-a... e eu era a sombra dos seus próprios passos..
- amei-a... e eu era um louco quando a amei talvez...

Hoje, seu corpo é um livro aberto aos meus sentidos
já não guarda as surpresas de antes para mim...
(Não importa se há livros muita vez relidos
importa... é que afinal, todos eles têm fim...

Essa, a quem julguei Ter tanta afeição sincera
e hoje não enche mais a minha solidão,
simboliza a mulher que sempre a gente espera...
mas que chega, e se vai... como todas vão..."


 JG de Araujo Jorge


O amor






Por mais que o poder e o dinheiro tenham conquistado uma ótima posição no ranking das virtudes, o amor ainda lidera com folga. Tudo o que todos querem é amar. Encontrar alguém que faça bater forte o coração e justifique loucuras. Que nos faça entrar em transe, cair de quatro, babar na gravata. Que nos faça revirar os olhos, rir à toa, cantarolar dentro de um ônibus lotado. Depois que acaba esta paixão retumbante, sobra o que? O amor...

Mas não o amor mistificado, que muitos julgam ter o poder de fazer levitar. O que sobra é o amor que todos conhecemos, o sentimento que temos por mãe, pai, irmão e filho. É tudo o mesmo amor, só que entre amantes existe sexo. Não existem vários tipos de amor, assim como não existem três tipos de saudades, quatro de ódio, seis espécies de inveja. O amor é único, como qualquer sentimento, seja ele destinado a familiares, ao cônjuge ou a Deus. A diferença é que, como entre marido e mulher não há laços de sangue, a sedução tem que ser ininterrupta. Por não haver nenhuma garantia de durabilidade, qualquer alteração no tom de voz nos fragiliza, e de cobrança em cobrança acabamos por sepultar uma relação que poderia ser eterna.

Casaram. Te amo prá lá, te amo prá cá. Lindo, mas insustentável...


O sucesso de um casamento exige mais do que declarações românticas! Entre duas pessoas que resolvem dividir o mesmo teto, tem que haver muito mais do que amor, e às vezes nem necessita de um amor tão intenso. É preciso que haja, antes de mais nada, respeito. Agressões zero. Disposição para ouvir argumentos alheios. Alguma paciência. Amor, só, não basta. Não pode haver competição. Nem comparações. Tem que ter jogo de cintura para acatar regras que não foram previamente combinadas. Tem que haver bom humor para enfrentar imprevistos, acessos de carência, infantilidades. Tem que saber levar.

Amar, só, é pouco. Tem que haver inteligência. Um cérebro programado para enfrentar tensões pré-menstruais, rejeições, demissões inesperadas, contas prá pagar. Tem que ter disciplina para educar filhos, dar exemplo, não gritar. Tem que ter um bom psiquiatra. Não adianta, apenas, amar.

Entre casais que se unem visando à longevidade do matrimônio tem que haver um pouco de silêncio, amigos de infância, vida própria, um tempo prá cada um. Tem que haver confiança. Uma certa camaradagem, às vezes fingir que não viu, fazer de conta que não escutou. É preciso entender que união não significa, necessariamente, fusão. E que amar, "solamente", não basta.

Entre homens e mulheres que acham que o amor é só poesia, tem que haver discernimento, pé no chão, racionalidade. Tem que saber que o amor pode ser bom, pode durar para sempre, mas que sozinho não dá conta do recado. O amor é grande mas não é dois. É preciso convocar uma turma de sentimentos para amparar esse amor que carrega o ônus da onipotência. O amor até pode nos bastar, mas ele próprio não se basta.

Um bom Amor aos que já têm! Um bom encontro aos que procuram! E felicidades a todos nós!



Artur da Távola (Livro Cada um no meu lugar)


Lya Luft



“Às vezes é preciso recolher-se. O coração não quer obedecer, mas alguma vez aquieta; a ansiedade tem pés ligeiros, mas alguma vez resolve sentar-se à beira dessas águas. Ficamos sem falar, sem pensar, sem agir. É um começo de sabedoria, e dói. Dói controlar o pensamento, dói abafar o sentimento, além de ser doloroso parece pobre, triste e sem sentido. Amar era tão infinitamente melhor; curtir quem hoje se ausenta era tão imensamente mais rico. Não queremos escutar essa lição da vida, amadurecer parece algo sombrio, definitivo e assustador. Mas às vezes aquietar-se e esperar que o amor do outro nos descubra nesta praia isolada é só o que nos resta. Entramos no casulo fabricado com tanta dificuldade, e ficamos quase sem sonhar. Quem nos vê nos julga alheados, quem já não nos escuta pensa que emudecemos para sempre, e a gente mesmo às vezes desconfia de que nunca mais será capaz de nada claro, alegre, feliz. Mas quem nos amou, se talvez nos amar ainda há de saber que se nossa essência é ambiguidade e mutação, este silencio é tanto uma máscara quanto foram, quem sabe, um dia os seus acenos.”


 Lya Luft




Fumo

"Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!


Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!

Os dias são Outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...

Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!..." 



Florbela Espanca





Miguel Torga

"Dei-te os dias, as horas e os minutos
Destes anos de vida que passaram;
Nos meus versos ficaram
Imagens que são máscaras anonimas
Do teu rosto proibido;
A fome insatisfeita que senti
Era de ti,
Fome do instinto que não foi ouvido.

Agora retrocedo, leio os versos,
Conto as desilusões no rol do coração,
Recordo o pesadelo dos desejos,
Olho o deserto humano desolado,
E pergunto porquê, por que razão
Nas dunas do teu peito o vento passa
Sem tropeçar na graça
Do mais leve sinal da minha mão..."

 Miguel Torga 






Os ipês amarelos: O que você ama define quem você é

Acho curriculum vitae uma coisa boba. Sei que os burocratas sem eles se sentiriam perdidos. Por amor aos burocratas e curiosos fiz uma concessão: coloquei o meu na minha homepage. Mas lhe dei um nome novo. Curriculum, em latim, quer dizer pista de corrida. Um curriculum vitae é, assim, uma enumeração dos lugares por onde se passou, na correria da vida. As coisas que eles registram não existem mais. O que é passado está morto. Assim, na minha homepage, ao invés de curriculum vitae eu escrevi curriculum mortis, porque eu não sou o meu passado. Eu sou o meu agora. De um pianista que vai iniciar o seu concerto não se espera que ele diga os nomes dos professores com quem estudou... Dele só se espera uma coisa: que se assente ao piano e toque...
...Ao final de uma entrevista o entrevistador me fez a última pergunta: “Como é que o senhor se definiria?” Fui pego de surpresa. A resposta teria de ser curta. Lembrei-me da frase que o poeta Robert Frost escolheu para seu epitáfio: “Ele teve um caso de amor com a vida...” Encontrei minha definição em mim mesmo. Respondi: “Eu tenho um caso de amor com a vida...”
Uma professora me contou esta coisa deliciosa. Um inspetor visitava a escola. Numa sala ele viu, colados nas paredes, trabalhos dos alunos acerca de alguns dos meus livros infantis. Como que num desafio, ele perguntou à criançada: “E quem é Rubem Alves?” Um menininho respondeu: “O Rubem Alves é um homem que gosta de ipês-amarelos...” A resposta do menininho e deu grande felicidade. Ele sabia das coisas. As pessoas são o que elas amam. Descartes afirmou: “Penso, logo existo”. Eu inverto Descartes e digo: “Amo, logo existo”. Mas o menininho não sabia que sou um homem de muitos amores... Amo os ipês, mas amo também caminhar sozinho. Muitas pessoas levam seus cães a passear. Eu levo meus olhos a passear. E como eles gostam! Eles têm fome de ver. Encantam-se com tudo...
...Escrever é minha grande alegria!...
...Vejo e quero que os outros vejam comigo. Por isso escrevo. Faço fotografias com palavras. Diferentes dos filmes que exigem tempo para serem vistos, as fotografias são instantâneas. Minhas crônicas são fotografias. Escrevo para fazer ver. Uma das minhas alegrias são os e-mails que recebo de pessoas que me confessam haver aprendido o gozo da leitura lendo meus textos...
...Não tenho medo da morte. O que sinto é tristeza. O mundo é muito bonito! Gostaria de ficar por aqui... Escrever é meu jeito de ficar por aqui. Cada texto é uma semente. Depois que eu for, elas ficarão. Quem sabe se transformarão em árvores! Torço para que sejam ipês-amarelos...

 Rubem Alves


Pétalas de carinho







Falei à flor
De Sua beleza
E quis saber o mistério
Do seu perfume...

Uma pétala
Ela abriu sorrindo
Como quem diz:
Ame o jardim
Que te rodeia
O sol que te ilumina
Faça o outro feliz
E deixe que seu perfume
Contamine...

Esqueça os espinhos
Que estiverem por perto
Receba seus amigos
Como recebo
Os passarinhos

Ame-se!
Faça de sua alma
Pétalas de carinho.

Sirlei L. Passolongo


Nietzsche

Eu sou vários! Há multidões em mim. Na mesa de minha alma sentam-se muitos, e eu sou todos eles. Há um velho, uma criança, um sábio, um tolo. Você nunca saberá com quem está sentado ou quanto tempo permanecerá com cada um de mim. Mas prometo que, se nos sentarmos à mesa, nesse ritual sagrado eu lhe entregarei ao menos um dos tantos que sou, e correrei os riscos de estarmos juntos no mesmo plano. Desde logo, evite ilusões: também tenho um lado mau, ruim, que tento manter preso e que quando se solta me envergonha. Não sou santo, nem exemplo, infelizmente. Entre tantos, um dia me descubro, um dia serei eu mesmo, definitivamente. Como já foi dito: ouse conquistar a ti mesmo. 

Nietzsche

Cora Coralina








“Eu, quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isto não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas


deste pequeno poema...”


Cora Coralina 





Caio Fernando Abreu

“Mas você não vê. Não vê, não enxerga, não sente. Não sente porque não me faz sentir, não enxerga porque não quer. A mulher louca que sempre fui por você, e que mesmo tão cheia de defeitos sempre foi sua. Sempre fui só sua. Sempre quis ser só sua. Sempre te quis só meu. E você, cego de orgulho bobo, surdo de estupidez, nunca notou.

Caio


Não perca seu tempo comigo

Verdade seja dita. Eu não sou como você esperava. Eu não sou uma loira-barbie pra te acompanhar nas festas jet-setters que você frequenta. Eu não tenho um par de peitos de 300 ml de silicone em cada um. Não tenho uma bunda de 102 cm de diâmetro como a da Juliana Paes. Eu sou muito mais do que você espera. Muito mais do que você aguentaria. E talvez até mais do que você merece.

Porque eu sou fiel aos meus sentimentos. Vou estar com você quando eu realmente quiser estar. Vou te ligar quando eu quiser falar com você. Porque eu não passo vontade. E nem vou passar vontade de você. Não vou fazer joguinho. Eu me entrego mesmo. Assim. Na lata. Eu abro meu coração. Rasgo o verbo. Me dou em prosa. E se te disser que não te quero, meu olhar vai me desmentir na tua frente. Porque eu falo antes de pensar. Eu falo até sem sequer pensar. Eu penso falando. E se estou com você, aí, não penso duas vezes. Não penso em nada. Não quero mais nada.

Então, não perca seu tempo comigo. Eu não sou um corpo que você achou na noite. Eu não sou uma boca que precisa ser beijada por outra qualquer. Eu não preciso do seu dinheiro. Muito menos do seu carro. Mas, talvez, eu precise dos seus braços fortes. Das suas mãos quentes. Do seu colo pra eu me deitar. Do seu conselho quando meu lado menina não souber o que fazer do meu futuro. Eu não vou te pedir nada. Não vou te cobrar aquilo que você não pode me dar. Mas uma coisa, eu exijo. Quando estiver comigo, seja todo você. Corpo e alma. Às vezes, mais alma. Às vezes, mais corpo. Mas, por favor, não me apareça pela metade. Não me venha com falsas promessas. Eu não me iludo com presentes caros. Não, eu não estou à venda. Eu não quero saber onde você mora. Desde que você saiba o caminho da minha casa. Eu não quero saber quanto você ganha. Quero saber se ganha o dia quando está comigo.

Você não vai me ver mentir. Desista. Mentiria sobre a cor do meu cabelo. Sobre minha altura. Até sobre meus planos para o futuro. Mas não vou mentir sobre o que eu sinto. Nem sob tortura. Posso mentir sobre minha noite anterior. Sobre minha viagem inesquecível. Mas não aguentaria mentir sobre você por um segundo. Não na sua cara. Mentiria pras minhas amigas sobre a sua beleza. Diria que tem corpo de atleta e um quê de Don Juan (mesmo sabendo que elas iriam descobrir a farsa depois). Mas não me faça mentir e dizer que não te quero. Que eu não estou na sua. Não me obrigue a jogar. Não me obrigue a dizer “não” quando eu quiser dizer “sim”. Não me faça tirar você da minha vida porque meu coração ainda acelera quando você me liga.

Insisto. Não perca seu tempo comigo. Porque eu não quero entrar no seu carro se não puder entrar na sua vida. Não me conte seu passado se eu não puder viver seu presente. Não faça planos comigo se não me incluir no seu futuro. Não me apresente seus amigos se, amanhã, vou virar só mais uma. Me poupe do trabalho de adivinhar seus pensamentos. Diga que me quer apenas quando for verdade. Diga que está com saudade apenas se sentir minha falta do seu lado. Peça minha companhia quando não desejar só meu corpo. Me ligue quando tiver algo pra dizer. Mas, por favor, me desligue quando não estiver mais afim de mim.

Brena Braz

Florbela Espanca

Saudades! Sim... Talvez... e porque não?...
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!
Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão!
Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!
E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!

Florbela Espanca

Mia Couto

“-É tão fácil ficar velho - respondera ela. - Nem sequer é preciso tempo nem idade. Basta não ter vontade de acordar.”

Mia Couto 


Mia Couto




"Diz o meu nome
pronuncia-o
como se as sílabas te queimassem os lábios
sopra-o com suavidade
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteça
Porque eu cresço para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a última gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo nem contorno
Porque apenas para os teus olhos
sou gesto e cor
e dentro de ti
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim próprio me venci
Porque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos
No húmido centro da noite
diz o meu nome
como se eu te fosse estranho
como se fosse intruso
para que eu mesmo me desconheça
e me sobressalte
quando suavemente
pronunciares o meu nome."


 Mia Couto 

 

Amélia Pais

"Penso em ti como um desejo interrompido 
que se teceu na minha memória.
E sonho-te mais do que te recordo.
Seleciono. Invento-te um nome, um rosto. 
Reconstruo. Reconstruo-te.
Peça a peça.
Minuciosamente – real ou irreal,
Assim te lembro."

Amélia Pais

Mia Couto

"Dai-me o tempo
ainda que o não mereça
que eu quero
ter outra vez
idades que nunca tive
para ser sempre
eu e a vida
nesta dança desencontrada
como se de corpos
tivéssemos trocado
para morrer vivendo".

 Mia Couto 



Marla de Queiroz

"Tenho me acostumado a receber o seu “bom dia” na hora mais sonolenta do meu café-da-manhã e a acordar definitivamente quando gargalho só porque você achou a minha história matinal bonita. Tenho me acostumado a rir muito mais de mim mesma porque você me acha engraçada e a sair mais enfeitada porque mesmo sabendo que não, tenho a impressão de que você me vê andando por aí, escutando sempre as mesmas músicas, no mesmo horário de sempre, mudando apenas os caminhos. Tenho me acostumado às mensagens ao longo do dia, aos seus mimos, a você sendo meu ouvinte passivo e sempre tão assertivo nas suas opiniões. Gosto dos seus cuidados e do respeito que você tem pelo meu lado mais maduro. Mas eu sei que você adora minhas molecagens e me espera à noite pra tomar chá comigo, talvez ansioso porque estou demorando um pouco mais. Secretamente, sem perceber, criamos nossos horários para promover e aproveitar mais os nossos encontros.

Tenho me acostumado a receber, eu que sempre dei até o que não tinha. E você me proporciona a vivência de um entusiasmo sem culpa. Antes eu achava que não era delicado estar tão feliz enquanto alguns sofriam. E por estas e tantas, tenho vontade de presentear você compartilhando um lado meu que talvez eu ainda não conheça, mas que você, com sua amorosidade, vem me ajudando a conhecer me dizendo com delicadeza detalhes sobre mim que eu nunca havia percebido_ tua sensibilidade é comovente. Gosto tanto da beleza que você me deu!Gosto do seu olhar atencioso e da sua maneira prática de me ajudar respeitando afetuosamente o meu tempo de resolver as coisas. Porque gasto muito tempo só sentindo, observando, contemplando, percebendo, mergulhando, vindo à tona e entregando as coisas pro Universo... Por isso, eu te peço: não tenha medo, eu não fujo do que é bom, eu aceito e agradeço...

(Tenho me acostumado a ter você por perto, por dentro, todos os dias, pra sempre... Hoje!)

Então, me espere para o chá das nove... Mesmo que eu me atrase um pouco."

Marla de Queiroz

Poder de Escolher
Existe uma presença e um poder dentro de nós que nos orienta e nos guia, tornando nosso caminho fácil e suave. Nós só precisamos tomar consciência desse poder e deixar que ele trabalhe para nós.

Quase sempre, quando acordamos de manhã, pulamos da cama e começamos a querer abrir nosso caminho, mantendo o controle sobre tudo.

Mas não é assim que esse poder trabalha.

Manter o controle sobre a vida seria igual a tentar controlar as batidas do coração, a respiração, a digestão dos alimentos, enfim, controlar as funções incontroláveis do nosso organismo.

Se você tentar fazer isso, vai perturbar o ritmo natural dos processos do seu corpo.

A melhor coisa que podemos fazer pelo nosso corpo é alimentá-lo saudavelmente, praticar exercícios que nos dêem prazer e deixar que a inteligência que existe em nosso corpo tome conta do resto.

A melhor coisa que podemos fazer por nossa vida é ter pensamentos positivos e amorosos, perdoar os outros, ter carinho por nós mesmos e deixar agir a inteligência do universo criando tudo aquilo que possa servir para o nosso maior bem-estar e completa alegria.

Dessa forma, tudo acontece suavemente. O poder que nos criou nos deu o poder de criar nossas vidas, o poder de escolher nossos pensamentos.

Essas escolhas constroem nosso futuro.

Se escolhemos a raiva, a agressão e o ressentimento, vamos criar apenas mais raiva, agressão e ressentimento.
Se queremos amor, precisamos ter pensamentos amorosos.
Se queremos alegria, precisamos pensar em alegria.
Se queremos sentir paz e calma, precisamos ter pensamentos pacíficos.
Se queremos prosperidade, precisamos abrir nossa mente para ela".

Louise Hay

Aborto de sentimentos

Abortar sentimentos é uma tarefa pesada demais para qualquer pessoa.Requer uma certa dose de valentia e coragem,que nem sempre temos.
Saber que se perdeu uma guerra,não porque se fugiu da luta,e sim por total falta de armas para continuar lutando,é muito doloroso.
Posso dizer a você,que foi uma luta insana(como toda luta que já nasce perdida),onde o amor perdeu para a indiferença e o silêncio.
Foram dias que se tornaram mêses,numa batalha inútil,onde o desgaste emocional foi intenso e muito dolorido.
Pensamos que podemos amar sozinhos,que podemos amar por nós mesmos e pelo outro.Pensamos que somos forte o suficiente para suportar e superar a indiferença e o silêncio de quem amamos.Mera ilusão.Somos frágeis,sensiveis,humanos.Não há como amar sozinho.
Reconhecer que se perdeu,não a pessoa amada(não se perde o que nunca se teve),mais sim ,a perda da luta da conquista.
Admitir o fracasso,diante de um amor tão gigantesco foi mais doloroso do que a luta penosa e inglória para tentar conquistá-lo.
Noites insones,noites perdidas em lágrimas,desejando desesperadamente por um sinal que nunca chegou,por um gesto,por um ato de compaixão.
Saiba que lutei o quanto pude e vi todas as minhas tentativas se esvair,sem dó,sem piedade.A cada tentativa frustrada,era como se uma espada de ponta afiada penetrasse em meu peito,rasgando minha alma.Era uma chicotada nos rins,num açoite sem limite e sem fim.
Saio dessa guerra vazia,sem rumo...saio com uma única certeza:que lutei com unhas e dentes por um lunático,digo lunático,porque as vezes chego a pensar que tudo foi uma criação da minha cabeça,que tudo não passou de uma fantasia por mim criada.
Saio de cabela baixa,como todo perdedor,saio com a sensação de impotência, por não poder lutar contra o silêncio devastador,o verdadeiro e único vencedor dessa guerra que chega ao fim,deixando um rastro de amargura e dor.

Lygia Cavalcanti





Poder de escolha


Existe uma presença e um poder dentro de nós que nos orienta e nos guia, tornando nosso caminho fácil e suave. Nós só precisamos tomar consciência desse poder e deixar que ele trabalhe para nós.

Quase sempre, quando acordamos de manhã, pulamos da cama e começamos a querer abrir nosso caminho, mantendo o controle sobre tudo.

Mas não é assim que esse poder trabalha.

Manter o controle sobre a vida seria igual a tentar controlar as batidas do coração, a respiração, a digestão dos alimentos, enfim, controlar as funções incontroláveis do nosso organismo.

Se você tentar fazer isso, vai perturbar o ritmo natural dos processos do seu corpo.

A melhor coisa que podemos fazer pelo nosso corpo é alimentá-lo saudavelmente, praticar exercícios que nos dêem prazer e deixar que a inteligência que existe em nosso corpo tome conta do resto.

A melhor coisa que podemos fazer por nossa vida é ter pensamentos positivos e amorosos, perdoar os outros, ter carinho por nós mesmos e deixar agir a inteligência do universo criando tudo aquilo que possa servir para o nosso maior bem-estar e completa alegria.

Dessa forma, tudo acontece suavemente. O poder que nos criou nos deu o poder de criar nossas vidas, o poder de escolher nossos pensamentos.

Essas escolhas constroem nosso futuro.

Se escolhemos a raiva, a agressão e o ressentimento, vamos criar apenas mais raiva, agressão e ressentimento.
Se queremos amor, precisamos ter pensamentos amorosos.
Se queremos alegria, precisamos pensar em alegria.
Se queremos sentir paz e calma, precisamos ter pensamentos pacíficos.
Se queremos prosperidade, precisamos abrir nossa mente para ela".

Louise Hay




Federico Garcia Lorca

"Hoje sinto no coração um vago tremor de estrelas, mas minha senda se perde na alma de névoa. Também a luz me quebra as asas e a dor de minha tristeza vai molhando as recordações na fonte da ideia. Todas as rosas são brancas, tão brancas como minha pena, e não são as rosas brancas porque nevou sobre elas. Antes tiveram o íris. Também sobre a alma neva. A neve da alma tem copos de beijos e cenas que se fundiram na sombra ou na luz de quem as pensa. A neve cai das rosas, mas a da alma fica, e a garra dos anos faz um sudário com ela. Desfar-se-á a neve quando a morte nos levar? Ou depois haverá outra neve e outras rosas mais perfeitas? Haverá paz entre nós como Cristo nos ensina? Ou nunca será possível a solução do problema? E se o amor nos engana? Quem a vida nos alenta se o crepúsculo se nos funde na verdadeira ciência do Bem que quiçá não exista, e do mal que palpita perto? Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos da Terra? Se o azul é um sonho, que será da inocência? Que será do coração se o amor não tem flechas? Se a morte é a morte, que será dos poetas e das coisas adormecidas que já ninguém delas se recorda? Oh! Sol das esperanças! Água clara! Lua Nova! Coração dos meninos! Almas rudes das pedras! Hoje sinto no coração um vago tremor de estrelas e todas as coisas são tão brancas como a minha pena." 

 Federico Garcia Lorca 




Frida Khalo

Se apenas eu tivesse as suas carícias em mim,
como o ar que toca a terra - a realidade da sua
pessoa, fazer-me-ia mais feliz, levar-me-ia para
longe do sentimento que me enche de cinzento.
Nada em mim seria tão profundo, tão final.

Mas, como lhe explico a minha necessidade
enorme de ternura! A minha solidão de anos.
A minha estrutura deformada devido
à sua carência de harmonia, a sua inaptidão
Eu penso que seria melhor partir, partir e não fugir.
Que tudo terminasse num instante. Oxalá

Frida Khalo

Mia Couto

"Só quero lembrar se o tempo for todo meu. Só anseio lembrança se não houver passado. Bruma e espuma apagam o tempo em que não amei. E eu amei para ser tudo, todos, sempre. Para te visitar esquecerei a terra e apagarei as estrelas. E irei pelos teus olhos, até o mundo voltar a ter princípio. Sou eu, dirás, e o tempo será lembrado."

 Mia Couto



Marla de Queiroz

Refaço a mala já arrumada. O excesso de peso me contraria, tanta coisa posta lá dentro que eu não precisaria. Começo deixando para trás os ranços: traços de sentimentos que aniquilam a beleza de outros, não me cabem mais. Deixo também algum medo: lançar-me no desconhecido há de ser a grande surpresa boa, mesmo com seus segredos. Me desvencilho da tentativa de controle: por que tem que ser maravilhoso? Por que não haveria de ser?

Repenso se quero guardar na frasqueira aquela pequena saudade: quero todo o espaço suficiente para abraçar a novidade. Não estou levando nenhuma culpa: há tempos ela me impediu de voar. E entre vestes abstratas, também deixo alguns vestidos: eles já conhecem situações que me levam sempre para o mesmo lugar.

Refaço a mala já arrumada: vou esvaziando o compartimento em que enfiei, cuidadosamente, a minha casa. Agora eu só tenho nas costas o desejo de caminhar sem qualquer peso. E o órgão nobre que é meu coração bem arejado. Preciso apenas estar em mim em qualquer lugar que eu vá. Levo o meu olhar atento, caneta, caderno, poemas-rebento, estou grávida da sensação e alegria de poder voar.



Marla de Queiroz



Voar

Voar...

"Voar é sentir a paz passar por seu corpo sem medir o tempo e o lugar.
Voar é possuir no interior o conteúdo leve e solto aonde chegar.
Voar é pertencer ao mundo, alcançar os portos e aeroportos mas sem pesos em sua bagagem, porque voar é a sensação de estar junto às estrelas e sentir a vibração intensa da vida.

Voar na imaginação, voar na meditação, voar na navegação, não importa o lugar e nem o tempo, o que é fundamental é a intenção.
Intenção é o valor profundo do seu coração que quando sensato, correto e verdadeiro transforma o pesado em leve, o duvidoso em certo, a turbulência em paz, é o momento certo e magnífico de voar."


Dra. Miriam Zelikowski



Cecília Meireles

“Traze-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.
Traze-me um pouco da alvura dos luares 
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão.
Traze-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
-Vê que nem te digo - esperança!
-Vê que nem sequer sonho - amor!”.



Cecília Meireles 



Santo Agostinho

A morte não é nada,
Apenas passei ao outro lado.
Eu sou eu. Tu és tu,
O que somos um para o outro ainda somos,
Dá-me o nome que sempre me deste.

Fala-me como sempre me falaste.
Não mudes o tom a um triste ou solene.
Continua rindo com aquilo que nos fazia rir juntos.
Reza, sorri, pensa em mim, reza comigo.
Que o meu nome se pronuncie em casa como sempre se pronunciou.
Sem nenhuma ênfase, sem rosto de sombra.
A vida continua significando o que significou,
continua sendo o que era.
O cordão de união não se quebrou.
Por que eu estaria fora dos teus pensamentos apenas porque estou fora da tua vida?
Não estou longe, somente estou do outro lado do caminho.
Já verás, tudo está bem...
Redescobrirás o meu coração, e nele redescobrirás a ternura mais pura.
Seca tuas lágrimas.
E se me amas, não chores mais!


Santo Agostinho