SOBRE A FELICIDADE

Caro Leitor,

Eu tenho sentido a felicidade da forma como eu nunca havia idealizado. Percebo que após tantas perdas, havia me tornado pouco exigente com algumas coisas. E a vida, sábia, não querendo que a minha fé diminuísse me deu coisas tão maiores e melhores do que eu esperava. Leitor, eu descobri algo muito difícil de compreender: a felicidade não tira o medo nem a melancolia de ninguém. O medo é uma necessidade de autopreservação e a melancolia pode ser a coisa que mais desenhe lirismo num olhar. Descobri que a felicidade é um estado de espírito e me incomodou a descoberta. Deveria ser confortador, mas isto me dá uma responsabilidade grande demais. Porque eu pensava que seria feliz quando tivesse um grande amor, um bom emprego, ótimos amigos (sempre os tive) e a espiritualidade encaminhada. E hoje eu tenho tudo e, ainda assim, às vezes me vejo melancólica. E nada me impede de acordar de mau-humor ou solitária demais. Porque eu perdi a possibilidade de ter sempre um réu, algo que me tirasse o peso da responsabilidade. Leitor, também descobri que a plenitude dos monges é possível para nós mortais! Isso me apavorou um pouco, porque busquei demais na meditação e encontrei a plenitude na correria do dia-a-dia, no trabalho, no corpo de um poema. Leitor, a felicidade também não nos tira os pesadelos nem planta um sorriso eterno no nosso rosto. Ela vem na superação de um desafio, em forma de alívio. Mesmo estando muito feliz é possível acordar muito assustado. Eu imaginava a felicidade como uma magia que tomasse conta dos meus dias, meio a minha revelia. Mas ela não se move, ela respeita meu livre arbítrio e a minha vontade de me sentir infeliz apesar de. O que me deixou mais aflita, leitor, foi descobrir que a felicidade nem se perde. Ela está à disposição de qualquer um que queira vibrar neste estado. A gente é que se afasta dela. Se a gente se apega ao sofrimento, às sobras, às incompletudes e às reclamações, como é possível simplesmente estar feliz e agradecer? Acho que ser feliz dá muito trabalho porque você tem que se desvencilhar da tristeza. E o abandono produz ótimas reflexões, o relacionamento falido produz mais metáforas, a falta de algo importante dá uma sensação de que injusta é a vida e que você é só vítima de um destino que não está te ajudando a ser feliz. Mas quando tudo lhe é dado assim, como um mar que se oferece pro seu mergulho, ou uma chuva que poderia fertilizar tua alma, se é o sol que faz falta, ou a sombra que te acolherá, que sentido tem a felicidade se oferecer pra mudar o teu rumo, teu humor, teus assuntos? A felicidade deixa a gente sem assunto. A felicidade é muito mais interessante quando ela é difícil de obter. Leitor, perceber que a distância entre qualquer um e a felicidade é uma quilometragem inventada me deixou pasma. Porque se ela sempre esteve ali, por que só consegui senti-la profundamente agora? Porque eu precisava entender que nada me faltava, eu sempre tive o suficiente de acordo com as minhas escolhas. Hoje, o que tenho é fruto da mesma coisa. Leitor, a felicidade talvez seja só uma escolha... e isso nos compromete demais.




Marla de Queiroz



Dores que não cabem em sacolas, alegrias que não se vão com as malas, desligamentos que, sobrecarregam a memória e, enfim a nova rotina se instala: o desconhecido personificado e a impressão de que acontecerá tudo, absolutamente tudo que não estava planejado. 

Então eu descobri, ao me aventurar no eterno desbravamento de paisagens internas e externas que, muitos becos se parecem sem saída, mas o que lhes falta é apenas uma placa indicativa.

Sigo, então.

Marla de Queiroz



O amor é brisa suave e é vendaval;é luz tênue e é relâmpago,na mais escura das noites.

Jolie Gonzaga


O amor é brisa suave e é vendaval;
é luz tênue e é relâmpago,na mais escura das noites.
Jolie Gonzaga




A Janela



"A janela dos seus pensamentos deve ser sempre limpa das impurezas do tempo e da mesmice, do tempo porque é necessário reciclar o pesado e o instável e transformar em perdão, da mesmice porque é fundamental levar o respeito e a consideração a quem merece, e levar ajuda a quem se arrepende do passado.

O orgulhoso manterá a janela fechada e com vidros escuros, o mesquinho jamais abrirá a janela pois teme perder algo que nunca foi seu, o verdadeiro caminho, o aproveitador tentará abrir a janela do outro com a inveja e a indecência, mas o humilde de coração, o verdadeiro de alma aguardará chegar o momento certo de abrir a janela, pois manterá limpo o vidro que separa os limites do respeito, da amizade, da dignidade e da vontade de cada um.

Cuide de sua janela, pois todos temos vidros que podem ajuntar o pó ou a ferrugem do tempo, mas limpar e manter a integridade depende de cada um encontrar o caminho verdadeiro."'








Lembrar é acessar a memória do coração;
ser lembrado é ser afagado na alma.
Jolie Gonzaga

Simples é o Amor

Simples é o amor
As vezes sabor de chuva
Outras sabor de sol
Aquece o corpo
Aguça os sentidos
Adoça os lábios...
Sente a presença
Até na ausência
Amor nada exige
Nada impõe Apenas ama.

Arnalda Rabelo

Devorando a vida
Hoje e amanhã 
O meio termo já não me satisfaz.

Nem pessoas máximas vazias
Nem as ínfimas cheias de mais.
Se por isso me sentencias
Se não me compreendes mais
Digo-te novamente:
É a essência que busco!
Um coração cheio de gente
E não gente cheia de razão.
Quero a carne o osso, a alma
Quero tudo intensamente.
Quero dessa louca vida calma
Desde o fruto
Até a semente!

Carolina Salcides 




Algum vento. E um punhado de folhas indo e vindo, palavras que secam na saliva, lágrimas que escorrem assimetricamente, gargalhadas projetadas para o céu conversando com esboços de nuvens. Algum vento. E a lua cheia de si convida as pessoas pra rua. Areia, mar aberto, ondas em rebento, rocha lisa acariciada pela brisa. Algum vento. E nenhuma esperança corrompida, céu aceso, becos com saída, túneis dispensados de seus breus. Algum vento. Sopram-me notícias de tua chegada, mão estendida, olhar extremoso, abraço pra sempre, o beijo gostoso: e quem te dará a mão sou eu.

Marla de Queiroz
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo

Mia Couto 


Nunca espere nada de ninguém, assim evitará decepções.
Nunca cultive mágoas, afinal as pessoas não merecem um cultivo desses.
Nunca se entristeça pela falta de carinho e sentimentos dos seres humanos, as pessoas só dão o que tem, e se nada tem, não há o que dar.
Ingratidão, releve, nem todo mundo tem um coração como o seu.
Quando sentir que o mundo está desabando em cima de você, mantenha a serenidade, tudo tem começo, meio e fim. Não existe dor que dure para sempre.
Quando pensar em desistir, lembre-se que em algum lugar desse mundo, tem alguém que precisa de você.
Se não deu, se seus sonhos se desfizeram, se as lágrimas insistem em cair, eleve o seu pensamento aos céus, tenha uma prece nos lábios, prece de amor, de compreensão e fé. Acredite, por pior que seja a dor, a desilusão, o cansaço, existe alguém que nunca te abandonará. Deus

Lygia Cavalcanti



Um dia ouvi que eu era a pessoa mais importante para alguém. Na época, aquilo era essencial para mim: ser promovida pela reciprocidade. E o tempo, imperador dos destinos todos, desgastou os mármores, mas manteve intacto aquele amor: ele sobreviveu à relação finda. E eu perdera o meu alto cargo de importância para aquele alguém. Convalescente, mas em recuperação da suposta infelicidade de um ego magoado, tive que descobrir outra forma de amor: uma espécie rara que dá perenidade ao bem-estar e põe o ego em seu lugar. Eu me tornei a pessoa mais importante para mim. Quem poderia me tomar isto? O tempo? Hoje, as pessoas vão e vêm. Recebo-as, rejeito-as, tolero ou amo. A poesia não me tira os sentimentos vis, nem as doçuras de um ser humano. Um dia me chamaram de radical. Aceitei: só eu sei a importância que as coisas têm para mim e o propósito de mantê-las ou não na minha vida. Em outra ocasião, me chamaram de amorosa. Compreendi: pessoas amoráveis extraem o que tenho de melhor. Já me disseram que pareço um personagem. Entendi: sendo povoada por tantas, quão imprevisível posso ser na liberdade que me permito ter. Não me importo com o que julgam, sempre serei espelho e sempre terei o Outro como meu espelho. Somos extensão. Estejamos ou não em harmonia ou comunhão, dedico carinhosamente o meu tempo compartilhando minha nudez. Aos que veem máscaras e vestes, sou impotente a estas leituras. Aos que veem generosidade e amparo, sou impotente à beleza que me dão. Sou impotente ao olhar alheio. Não tenho o controle de absolutamente nada, mas o meu trabalho consiste em eu não me rejeitar.

Diariamente eu fortaleço minha autoestima assim:
Hoje, nem que seja apenas hoje, eu sou a pessoa mais importante para mim.

Que assim eu esteja.

Que assim seja.

Marla de Queiroz




"A Casa dos seus sonhos...O Corpo Físico..."

"A casa dos seus sonhos deve nascer dentro de você, com a energia do sol e a paz da Lua, nada prevalece na Vida, se você alimenta a sua alma com ervas daninhas que acabam com a sua casa dos sonhos, isto é o seu corpo, assim não envenene o invólucro de sua alma, esta embalagem precisa permanecer intacta até o final do seu contrato divino, isto é seu tempo de vida.

Envenenar a embalagem da alma significa emoções instáveis, sentimentos amargos, falta de perdão, ausências nas necessidades que requerem sua presença, isto é fugir das responsabilidades, se alimentar fisicamente de forma a prejudicar o organismo, utilizar de medicamentos ou drogas que alteram o comportamento mental e degeneram o físico, prejudicando o seu propósito principal, alcançar um degrau na evolução humana não prejudicando o próprio corpo e assim dando exemplo aos familiares e amigos do valor inestimável do corpo físico.

A casa dos seus sonhos será verdadeira, completa, íntegra se o seu intelecto e as suas emoções trabalharem em uma só direção, a da vitória aonde não se destrói o corpo, para desfrutar de uma aparência ou de uma imagem, que a duração será tão pequena quanto o desprezo pelo bem emprestado com tanta dignidade a você....o seu corpo físico.

Dra. Miriam Zelikowski

Porque a angústia, meu amor, é essa tristeza sem rosto, sem acontecimento, sem desencadeador, sem réu. É de repente não caber em lugar algum e escrever esse amontoado de palavras magoadas com ninguém. Essa angústia a gente não puxa, não escolhe: ela entra na gente assim como a noite caindo lenta e definitiva. E ela aperta teu peito com toda disposição do mundo. 

A angústia te tira do mundo de fora, te deixa encolhido olhando pra dentro, porque não se pode apontar o dedo e nem colocar a culpa em ninguém, ela simplesmente é esse mal-estar que te faz querer mudar tudo de lugar e se fazer alguns ajustes. Você não vai conseguir sequer fingir que está bem se ela te abraçar. Angústia te deixa enfastiado com a própria rotina, com o seu jeito antigo de conduzir as coisas. Ela te pede morte e renovação. Ela te impõe uma perda irremediável do que você era antes, ela te força a trocar de pele como se você tivesse tomado muito sol …sem proteção.

O que a angústia quer de você é a desaceleração pra parar e contemplar e agir de acordo com o que pede a tua sede de alma…

Ela vem pra gritar aquilo que seu coração sussurrou tantas vezes num momento em que você pensava estar ocupado demais para ouvir.

Marla de Queiroz

MENDIGO DO AMOR



Até que ponto é possível amar sem ser amado?

Quando amamos platonicamente, o amor pode durar muito tempo. Pois não tem ninguém para estragar nossa idealização. Não há convivência para nos desafiar. É uma paixão estanque, feita de sonho e névoa. É uma vontade desligada da realidade. Temos a expectativa intacta, longe de contratempos. Acordamos e dormimos com o mesmo sentimento, longe de interrupção em nossa fantasia.

Mas quando amamos dentro de um casamento e quem nos acompanha não retribui o amor? Quanto tempo dura? Quanto tempo você suporta a secura, o desaforo, a grosseria? Quantos meses, se cada dia é um ano?

Nem estou falando de falta de sexo, mas a falta de beijo, de abraço, da telepatia rumorosa, do colo, de perceber seus cabelos sendo penteados pelas mãos, de ver seu rosto encarado de forma única e brilhante. Nem estou falando da falta de aventura, mas do conforto protetor, da cumplicidade, do afago que é viver com a certeza de que é admirado. Nem estou falando da falta de viagens, mas do mínimo da rotina apaixonada, ser cuidado mesmo quando está distraído. Não estou falando de arroubos e arrebatamentos, mas da vontade boa de morder seus lábios levemente quando suspira e de esperar o final de semana como um feriado.

Quanto tempo dura o amor sem retorno, sem reconhecimento?

Talvez pouco, quase nada. Quem não se sente amado não é capaz de amar. Não é problema de carência, é questão de tortura.

Extravia-se a cintilação dos olhos. Ocorre um bloqueio, uma desesperança, uma resignação violenta. É como dançar valsa sozinho, é como dançar tango sozinho. É abraçar pateticamente o invisível e não ter o outro corpo para garantir seu equilíbrio.

Você se verá um mendigo em sua própria casa, diminuído, triste, desvalorizado, esmolando ternura e atenção. Aquilo que antes parecia natural – a doação, a entrega, a alegria de falar e de se descobrir – será raro e inacessível. Todo o corredor torna-se pedágio da hostilidade. Passará a evitar os cômodos para não brigar, passará a evitar certos horários para se encontrar com sua esposa ou marido, passará a prolongar os períodos na rua, passará apenas a passar. Combaterá as discussões e gritarias anulando sua personalidade. Despovoará a sua herança, assumirá o condomínio do deslugar. Comerá de pé para evitar o silêncio insuportável entre os dois.

Quer um maior mendigo do que aquele que dorme no sofá em sua residência? Com um cobertorzinho emprestado e com a claridade das janelas violentando os segredos?

Por ausência de gentileza, perdemos romances. O que todos desejam é alguém que diga: não vou desperdiçar a chance de lhe amar. Alguém que não canse das promessas, que não sucumba ao egoísmo do pensamento, que tenha mais necessidade do que razão.

A gentileza é tão fácil. É fazer uma comida de surpresa, é convidar a um cinema de imprevisto, é pedir uma conversa séria para apenas se declarar, é comprar uma lembrancinha, é chamar para um banho junto, é oferecer massagem nos pés, é perguntar se está bem e se precisa de alguma coisa, é tentar diminuir a preocupação do outro com frases de incentivo.

Quando o amor para de um dos lados, o relógio intelectual morre. Não se vive desprovido de gentileza. A gentileza é o amor em movimento.


Fabrício Carpinejar