E que me deste o teu cuidado ,
Acolhe ao peito , como o ninho
Acolhe ao pássaro cansado ,
O meu desejo incontentado .
Há longos anos ele arqueja
Em aflitiva escuridão .
Sê compassiva e bem fazeja .
Dá-lhe o melhor que ele deseja :
Teu grave e meigo coração .
Sê compassiva . Se algum dia
Te vier do pobre agravo e mágoa ,
Atende á sua dor sombria :
Perdoa o mal que desvaria
E traz os olhos rasos de água .
Não te retires ofendida .
Pensa que nesse grito vem
O mal de toda a sua vida :
Ternura inquieta e malferida
Que , antes , não dei nunca a ninguém .
E foi melhor nunca ter dado :
Em te pungido algum espinho .
Cinge-a ao teu peito angustiado .
E sentirás o meu carinho .
E sentirás o meu cuidado."
Manuel Bandeira
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