Guilherme Antunes

Aprendi a encantar palavras para enamorar teus olhos. O que sou, não foram os destinos que me fizeram, mas o teu Amor em mim. E quando num incerto ontem voltei da tua presença, tornei-me na distância domador de realidades, tradutor juramentado na língua das flores e no canto dos pássaros; um orador de infinitos, graduando-me nos sagrados ofícios do encantatório apenas para enredar-te nas linhas do meu futuro. Não posso deixar de dizer com certa graça que fiz algum sucesso entre as cigarras e as formigas. Assim ganhei meus olhos de poesia, como estratégia para me livrar das cinzas tristezas que trouxeram as saudades. Por isso cito este breve receituário de amanhecimentos que por culpa tua levará teu nome. Sirvo-me do que serve-me para servirmos e salvarmos os outros também. Serviço de utilidade pública e poética, sabe? Explico. Ouso dizer-te que a poesia não começa nem termina, fixa e derramada no papel. Ela se inicia muito antes, e percorre longo caminho até dela extrair-se o sumo a absorver-se na palavra dando-lhe cor e forma. Este processo não é mecânico, nem lógico, analítico, sintético, sinótico, mas antes estilístico, sinestésico, osmótico, dizendo até que cinematográfico, simbiótico, simpático e quase-mágico, e digno de assombro pois, revela-nos a nossa própria natureza. O homem é o único ser a ser digno dos assombros...

Guilherme Antunes

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