Marla de Queiroz



Sinto os olhos embaçados de sono, um cansaço que não para de crescer, mas reluto no desembaraçar deste emaranhado de palavras carregadas de falta de assunto. Como seria bom poder abandoná-las espargidas em seu repouso, descansadas de minhas vãs tentativas, inativas. Eu só queria uma imagem, um lugar destes que quando construímos juntas, eu possa ir e ficar um pouco antes do derramamento do corpo no colo do sonho. Eu só queria um jeito menos tosco de dizer “boa noite, meu amor, eu te amo para sempre, hoje”. E a pessoa se sentir amada esta noite. Para sempre hoje. Eu queria também que elas, as palavras, me dessem argumentos irrefutáveis que trouxessem as pessoas para perto da minha boca e eu pudesse sussurrar em seus ouvidos: “eu prometo que amanhã vai ser um dia tão feliz. E depois de amanhã também. E todos os dias da tua vida”. Eu queria dizer isso com palavras. Mas com palavras lindas, dessas que os poetas juntam e ficam tão amarradinhas que, paradoxalmente, parecem preparadas para o voo. Mas meus olhos estão embaçados de sono, meu cansaço não para de crescer e “eu te amo meu amor para sempre hoje e prometo que amanhã e todos os dias da sua vida tudo vai ser tão feliz muito mais feliz que esta minha tentativa de dizer”.

Marla de Queiroz

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